André Curi: opinião sobre Explicação dos Pássaros


Impossível, não há categoria para isso. Por mais que remoamos as gavetas, as transformemos em triângulos, quadrados e em (para quê servem?) losangos, não há categorias para António Lobo Antunes – o mais amorfo escritor que já li.

Primeiramente [...], não há história em Explicação dos Pássaros, ou pelo menos não há relevância alguma nela. Vamos lá: Quando perguntam as histórias de um livro, se referem a uma linha cronológica com uma sequência lógica dos fatos. Mas eu respondo com outra pergunta Que linha? Que fatos? Por acaso a avalanche constante em nossas cabeças segue a tal linha? O que você está pensando agora, e agora? E agora? O que temos em mãos não são páginas com milhares de palavras arranjadas, mas um espelho refletindo a nós mesmos, seres em constante ebulição racional. Um homem que se mata no final. E daí mesmo. A maestria em conduzir o pensamento humano é a profundidade alcançada pelo escritor português, dane-se a história.

Isso traz consequências. Sem dúvida é um livro contra a disciplina: não force a leitura. No segundo parágrafo, logo previ que o ritmo de 50 páginas ao dia se tornaria impraticável. Em alguma partes, 3 páginas ao dia pode ser considerado sucesso. Quando nos damos conta, tamanho esforço, estamos até transpirando (não é brincadeira). Somos impelidos a parar, mais do que isso: queremos jogar o livro pela janela ou comê-lo a mordidas caninas, mas não conseguimos. Percebe a angústia? Queremos ler mas não conseguimos, queremos parar mas também não conseguimos. E é assim que, aos trancos e barrancos, vamos passeando entre os pensamentos aos trancos e barrancos de Rui. Louco, né?

Agora, se esperam estar na hora do veredicto Gostou ou não?, continuarão chupando o dedo, eu ainda não sei que notar dar. Mas, adianto, não é um dos meus favoritos. E, encerro, talvez seja. Afinal, o que em nós é lógico?


André Curi
21.01.2011

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